FIGURAS SINGULARES NA PRAÇA DO IMPÉRIO

Os desenhos apresentados nesta exposição virtual são trabalhos de oficina que especulam sobre as morfologias híbridas e constituem uma etapa na resolução das variações anatómicas das figuras que estão a ser criadas em computador.

São 63 desenhos em formato A2 (59.4 x 42), produzidos a sanguínea sobre papel de 220gsm. Num momento inicial, fundem a morfologia humana e a animal e apuram o conceito de cada ser fantástico, que vai servindo de referência à modelação livre.

Tornar visível a partir da ideia é um dos aspectos fundamentais do desenho. Mas na criação de cada personagem, são também os factores do ofício que contribuem para a sua definição. É a partir do desenho que flúi todo o processo criativo e, ainda que a sua linguagem parta da existência de outros grafismos similares, cada identidade gráfica revela também o mundo do executante, não só os aspectos técnicos e cognitivos mas igualmente o seu estado sensível, em cada momento da acção.

A preferência pelo exercício do desenho antigo (lápis sobre papel), como gesto desencadeante de um projecto para computador, permite que a criatura seja a fusão das experiências do autor na sua acção produtora, transportando mais valias do acto de desenhar (nas operações de elaboração e de reconhecimento de cada elemento mínimo na constituição do todo), para a figura em 3D.  

Embora seja tentador valorizar o digital, o desenho antigo é fundamental no processo criativo, o que leva a tecnologia para o campo da ferramenta de representação.

Cada imagem, por si, está no âmbito de um paradigma de representações que foi no passado definido, descrito ou graficamente assente em documentos desenvolvidos ao longo da História. Esses arquétipos são aqui alvo de especulação gráfica, que os leva a afastar-se do lugar iconográfico inicial para se reinventarem em novas afinidades de leitura, formando famílias morfológicas alargadas. Por isso, os seres fantásticos agora em produção, serão de novo classificados, caracterizados e nomeados de acordo com essas estruturas de dependência, num processo mais adiantado da sua elaboração.

O título insinua a pertença destas figuras a um vasto espaço do imaginário ocidental, de relação com os mundos longínquos de origem (Índia e Pérsia) e de outros lugares para onde foram levadas (Novo Mundo), onde se disseminaram em diferentes direcções de ordem cultural. Agora, em fase de especulação oficinal, ainda produzidas com mão humana, transitarão para formas de concepção gráfica digital e criar-se-ão num mundo estético de dimensão total.

Lisboa, 13 de Janeiro de 2009

J. C.